quarta-feira, 25 de abril de 2012

Recordar

     A filosofia não é um ato exclusivo de estudiosos doutorados. Não existem restrições para seu uso, e qualquer um pode filosofar. E por que não citar o ex-jagunço Riobaldo, um homem simples do sertão, fruto da mente de Guimarães Rosa, escritor realmente interessante, que possui várias características peculiares e uma delas é a criação de novas palavras, existe até um dicionário de neologismos chamado " O Léxico de Guimarães Rosa".
     Há dias em que nossos sentidos, nos lembram sensações e fatos passados, hoje me lembrei de várias coisas, e também de um texto no qual Riobaldo faz suas filosofias sobre o ato de se recordar de algo.
     Aqui vai ele:

     "Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que tem certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, uns com outros acho que nem se misturam [...]. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez,  então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa,  sendo essa conexão que lhe dá sentido, princípio, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez seja esse o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem."

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