domingo, 19 de maio de 2013

Instabilidade Progressiva

      E saber qual seria a primeira música em uma lista aleatória? A música que daria início a um texto que se desprendia de uma madrugada inoportuna, não poderia ser outra. A aleatoriedade, enfim, me laçou...


     ...se já não o tivesse feito, há 17 anos atrás. É com prazer que escrevo o meu ultimato. Aquilo que vai decidir de uma vez por todas esse futuro mesquinho, pequeno e insignificante em algo ganancioso, grande e importante. 
     Algo que não é assunto desse texto, mas que gostaria de mencionar para apenas formar um quadro clínico da minha situação na última semana. Digamos que o Senso Incomun foi desafiado de maneira explícita; pior, deixou-se cair na armadilha de um sentimento fútil, porém extremamente intrínseco a cada um de nós. 
     Então, o heroísmo haveria de trazer-nos mais um final feliz, possivelmente um texto imenso no blog sobre os aspectos gerais dos relacionamentos, comparações com o mundo natural e talvez algumas hipóteses em um campo tão desprezado pelos românticos e abastados. A miséria do amor.
     Só que não estamos falando de um livro no qual o personagem sempre recebe um final triunfante, pois um par de mãos manipula todas as possíveis situações. Ou estamos falando exatamente disso. Eis minha dúvida.
     Talvez apresentei-a de maneira brusca e incomum aos meus métodos. Uma pena, pois não ouso exacerbar qualquer introdução sobre a mesma. Sendo uma proposição ou outra, a resposta do tal Senso não veio, e não sobrou nada além dos prepotentes "Dias Obscuros".
     Prepotentes deveras porque ocupam a posição de todo um texto. Me pergunto se essas palavras deveriam ter sido escritas na dita data. Uma explicação nunca faltará da minha parte. Aliás, recordo-me de ler em algum passeio pela rede social algo do tipo: "Viva não dando muitas explicações: seus amigos não precisam; seus inimigos não irão acreditar; e os estúpidos não vão entender." Creio ser um dos estúpidos.
     Os dias são - como imaginei várias vezes que iria escrever - não obscuros por serem vis, sombrios ou coisa do gênero. São dias obscuros por ofuscar a luminosidade que pode ser emitida com certo esforço. São dias obscuros por pesarem sobre minha visão e me deixarem cego. 
     Então vêm as ameaças, que são belíssimas por sinal, e me lembram de algo que talvez nunca deveria esquecer. O fato é que são ameaças, mas tão reais quanto suas consequências concretas e isso me assusta.
    Quantas histórias tristes não poderiam ser invocadas agora? Quantas amostras de superação humana e demonstrações da vontade humana? De fato são inúmeras. Mas não vou usar de nenhuma para expor "minha-maior-e-urgente-preocupação". O que vou usar é nada mais nada menos do que a vida cotidiana.
    Quero saber, o que determina como sua vida deve ser, pois, apenas com nossa consciência e pré-conceitos podemos estabelecer parâmetros e idealizações de como a vida dever ser. Penso que possamos postular que o que acontece não depende de nossa vontade.
    Então, sua vida que vai bem, pode tornar-se terrível. E o que realmente me interessa é o que acontece durante esse processo. Siga comigo.

A ótica perfeita

     E veja que todos nossos problemas não existem dentro das Ciências Naturais. Considero nossa maior invenção, não a internet, o rádio, ou qualquer apetrecho tecnológico. Mas sim um campo de abstração (impossível colocar qualquer adjetivo sobre essa palavra). Nele foi criada uma visão limitada sobre o mundo, dita propriamente humana. Nela pode-se enxergar o ódio das guerras, o desejo de uma vida melhor e a preciosidade dos momentos simples ao lado de quem se enamora e o medo ante um desafio.
     Ela é extremamente bela, e possui suas falhas catastróficas. Foi criada  para aproximar o homem do seu sentido. Mas não fez mais que criar sentidos falsos a todo momento, tentando negar a verdade mais óbvia: Não fazemos ideia alguma do que seria esse verdadeiro sentido.
     Somente usando desse Campo, e vestindo-me dessa visão, é possível inferir sobre a melhora ou o decaimento da situação de qualquer pessoa. De modo que não existe do ponto de vista físico, nenhuma vantagem para o que foi definido pelo Homo Sapiens como o ideal para se viver, ou as situações agradáveis que devem ocorrer, já que tudo é "aleatório".
     Esse ponto de vista físico que me intriga. Utilizando-se então de algo que chamei (e odeio dar nomes nessa situação, pois odeio decorar o que pensadores disseram antes como: O que é a potência do ser, a dúvida hiperbólica, etc. Pois considero que vale apenas toda carga semântica, a ideia em si, que sim, é completamente auxiliada pela nomenclatura na hora de se entende, mas não deveria estabelecer qualquer relação obrigatória com a mesma. O que Darwin chamou de A Origem das Espécies, Wallace chamou de minha febre muito doida.) de A ótica perfeita, tentarei analisar qualquer fato prejudicial, que não gostaríamos que acontecesse.
    Acho que o aspecto mais chamativo é quando percebe-se que o que é prejudicial e o que é benéfico não possuem diferença clara sobre essa perspectiva (que usei o termo aqui, mas não acredito que ela seja uma, pois é exatamente a ausência de uma perspectiva, porém, essa ausência, analisada na nossa visão, torna-se outra perspectiva). E na realidade não existe essa discrepância. 
     Essa ótica é alucinante (não expresso aqui qualquer euforia, mas sim pavor). Pois parece situar-se algum degrau acima do minha ferramenta de apoderar-me de ideias completamente opostas. E assim como posso ver a realidade não com uma frequência limitada de luz, mas com todas? Como posso ouvir tudo o que se há para ouvir, e perceber que não existe unidade, e sim harmonia de leis?
     Pois dentro desse lugar inexplorado, que não pode ser chamado de lugar, nem admite abstrações como adjetivos! a nossa concepção de vida como a experiência é desolada. Como uma faísca num inverno de dimensões inacreditáveis. Forçando ao máximo, talvez após aprender como a viver no campo abstrato criado por nós mesmos, tudo torne-se sem graça. Como um câncer que é apenas uma multiplicação desordenada de células e que qualquer mal de origem biológica, é apenas o ciclo de um micro-organismo.
     Caberia citar um trecho do pensamento de John Locke, que ajuda a expressar essa obrigatoriedade do uso dos sentidos na produção do conhecimento. Presente no Ensaio sobre o entendimento humano: "[...] as representações do real são derivadas das percepções sensíveis, sendo que essa é a única fonte de conhecimento [...]".
     Acredito que ainda é possível potencializar o conhecimento além das limitações humanas, de modo que não nos veremos tão perdidos.
     Pois se não se pode ver algo, não quer dizer que aquilo não existe. Vale evocar um trecho de um artigo de Bertrand Russel chamado "Existe um Deus?". Esse texto não sintetiza qualquer argumento ateísta, mas fala sobre o inexplorado. Esse inexplorado é extremamente desconhecido, não podendo ser, por enquanto, conhecido por nós humanos. Nem preciso dizer minhas considerações sobre a abertura aqui para a possível existência do deus pessoal-cristão. Para isso basta ler "Uma Miscelânea Harmoniosa". Ainda que o trecho a seguir já mostra a razão sendo aplicada brilhantemente contra mais um deslize do pensamento humano.
     "De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um porte de chá de porcelana girando em torno do sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido a minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice."
      A maneira como podemos usar nossos sentidos é intrigante! Observando que, são combinações atômicas que nos trazem tudo isso. Que nos fazem e que nos dão a possibilidade de sentir.

As turbulências ao longo da linha[?]

     O problema disso surge em algo que demos o nome de Futuro. A partir do momento que existe qualquer previdência para algo que possa ou não ocorrer; aí posso introduzir toda a potência de meu pensamento. Primeiro que pensamos sobre isso de maneira linear, - vide subtítulo - segundo que o mesmo é completamente imprevisível. 
     Acho interessante, quando por exemplo esperamos ir a um lugar. Quando não temos referências físicas e imaginamos como seria. Quando chegamos e nos lembramos da imagem mental anteriormente formada, como suas diferenças são notáveis.
      A instabilidade progressiva, é a probabilidade constante de que algo de perturbações médias ou severas acometa nossa vida. É progressiva, pois quanto mais se vive, maior é a chance de que algo uma hora dê extremamente errado. E pensando nisso que, agora em uma área completamente prática, me vejo apostando incessantemente.
     Apostando meus planos, desejos e sonhos. Futuro. Sendo que tudo pode acabar agora, nesse instante. Eu já discorri brevemente sobre a nossa possibilidade de morrer a qualquer momento, mas agora, não só morrer, mas ser privado de qualquer uma das possibilidades intelectuais e corporais que nos são dadas. Carrego todo tipo de ameaça, algumas mais gritantes, outras ocultas e potencialmente mais perigosas. Deve fazer parte do processo, aprender a lidar com essa possibilidade constante de perder todas as fichas.
     Eu tento entender a ligação entre toda essa subjetividade e o mundo natural, mas isso nunca quis dizer que desprezo a subjetividade e todas as características humanas, muito pelo contrário! Mas quando falo em amor como impulsos elétricos e neuroquímicos, as pessoas tendem a imaginar que eu desprezo as emoções, ou talvez não de a importância que esses sentimentos merecem. Quando falo em laços, como nada mais nada menos do que apetrechos adquiridos pela evolução, associam isso a qualquer depredação de um significado especial.
     Em verdade eu vos digo, isso nunca quis dizer desprezo ou rebaixamento. É importante lembrar que, o amor, o carinho e a amizade; o ódio, a inveja e o egoísmo (não necessariamente antagônicos nessa relação) sendo isso ou aquilo, nunca mudarão sua intensidade. E não era esse valor que importava desde o começo, senhoras e senhores, a intensidade do que vós sentis?
     O que o é o futuro, para um átomo de carbono? O que é a morte, para um composto químico que estará no meu corpo no momento da minha morte? O que é uma doença, até para o órgão afetado, se estamos falando apenas de um monte de proteínas sendo atacadas por mais um monte de proteínas? Infelizmente não dispomos dessas perspectivas. Então, sofremos.
     Porém existe dor. Mas também existe amor, carinho e orgasmos. E tudo isso abastece nosso Campo abstrato. Onde já se viu! Alguns arranjos de carbono, nitrogênio e oxigênio fazendo poesias.