sexta-feira, 27 de julho de 2012

Meu brado forte

     Saudações bom cidadão. Faz tempo que não apareço por aqui. Eu estava andando em uma pequena cidade no estado de Minas Gerais, e encontrei uma pequena peça de algum equipamento. Procurei na internet, e com algumas pessoa especializadas e consegui umas dicas. Acontece que já perdi muito tempo procurando, acho melhor anunciar que está perdido e ver se alguém consegue achar. Peço a todos que procurem, se vocês encontrarem me avisem. Então resolvi fazer um cartaz de procura-se, e coloquei algumas das características (espero que ajude, pois são muitas) da máquina  da qual essa pecinha faz parte. Segue o cartaz:

     Por favor! Estou desesperado por achar onde se encaixa essa peça! Tenho certeza que ela é muito importante, afinal, todo mundo sabe, todas as engrenagens geram um movimento, mas se faltar apenas uma, nenhuma serve.
     Então Abaixo descrevo onde ela se encaixaria:

     Encaixe Perfeito

    Bom, a primeira coisa que me surpreendeu na minha busca pelo mecanismo da qual a peça Z (resolvi chamar ela assim) se encaixa foi a de que é uma máquina MUITO grande! Não foram muito específicos de quanto grande ela é, mas pude entender que é gigantesca. O que chega a ser engraçado, pois estou com uma pecinha que cabe na palma da mão!
     Pesquisando mais, pude entender que ela não estaria fazendo muita falta por aí. Pois existem várias delas,  muitos já encontraram também. Mas ninguém soube descrever ao certo a qual máquina pertencia. Então, a partir daí, a minha necessidade de procurar era apenas para saciar a minha curiosidade. 
     Mas não pensem que é perda de tempo, pois nunca acabam as utilidades para essa peça, acho que estou com algo de valor em mãos, por isso a considero importante. A peça que tenho, é ao mesmo tempo material e abstrata! Ela é tão interessante, e possui várias características a primeira delas é a característica histórica.
     A característica histórica é obviamente uma das mais gritantes. O que possuo agora já foi utilizado em várias épocas! E continuará sendo usada por muito tempo. Posso estar enganado, com certeza estou. Mas com os dados que consegui até agora, já posso afirmar que era usada por um povo chamado de Sumérios e por outro povo que é denominado Egípcios.
     Então estudei um pouco deles, mas ainda sim não tinha toda a informação necessária. Então prossegui minha busca. Depois dos Sumérios e dos Egípcios vieram incontáveis povos importantes, dentre eles destaco: Os povos mesopotâmicos, os Hebreus, os Fenícios e os Persas. Todos eles pareciam ter algo muito familiar com o que eu tinha encontrado.
     O engraçado é que não parou por aí, pude sentir ainda mais familiaridade nos séculos seguintes. Primeiramente com os Gregos. Ah sim! Eles tinham um perfil que me mostrava que eu estava perto. Realmente pude entender muito desse grande equipamento. Os macedônicos me fizeram o favor de aprofundar a cultura grega através do Helenismo, o que também foi feito pelo Romanos. Porém esses últimos inseriram suas particularidades no Mecanismo.
     Enfim chegando a algum lugar, aos poucos percebi que essa máquina talvez fosse uma das maiores invenções! Ela era diferente de qualquer coisa que eu já tinha visto antes, ela era totalmente moldável de acordo com o tempo, o lugar, e as pessoas.
     Os povos bárbaros a princípio não pareciam muito semelhantes, mas conforme foram evoluindo também pude identificar que a máquina estivera lá. Nesses povos em particular, ela começou fraca e de repente se tornou incontrolável, uma potência. Uma monstruosidade que estava em toda parte. Isso já era presente no Império Bizantino e nos fins do Império Romano.
     Então parei de procurar e comecei a fazer ligações com o que eu já tinha. Percebi alguns pontos em comuns entre os povos, e algumas condições que faziam com que essa máquina se desenvolvesse mais ferozmente. Destaco:
  •      Religião: É impossível deixar de verificar a intensa presença da religião. Então resolvi mostrá-la em alguns casos específicos para que possam entender. Utilizarei como exemplos a Cristianismo através da Igreja Católica, e o Islamismo. As crenças que existiram antes desses se encaixam também (principalmente o Judaísmo). Porém vou falar dessas duas como exemplo.
  •      Estado: O Estado é geralmente a melhor forma de controle e é a essência da Máquina que procuro. Não há como citar dois tipos de Estados, mas sim o que ele tem comum sempre.
  • Mecanismo Estético: Na forma da Mídia e do Entretenimento. A parte da mídia é mais atual, já o entretenimento vem há muito tempo. Um exemplo é a Política do Pão-e-circo no Estado Romano. 

     Religião: O mecanismo começa a se esclarecer

    Com a evolução do Império Romano, principalmente durante seu auge, (na Pax Romana) uma nova força social e política começa a ganhar força. Podemos analisar que a religião estava concentrada nos deuses e na figura do imperador. A Máquina estava se sustentando através do Estado. 
     Surge o cristianismo. Sua origem, obviamente advinda do Judaísmo tendo como crença na vinda de um Messias. Falando especificamente de Jesus Cristo. 
     Essa nova doutrina se adapta perfeitamente as condições geradas pelo Império Romano, principalmente nas camadas baixas. Então começa a ganhar força, e, como o auge do Império deu início a sua decadência, a Igreja cresceu quando o Império caía (equilíbrio das forças), o que a tornou como opção de poder. A partir daí chegamos ao cerne de uma religião.
     O Islamismo não possui todos os princípios diferentes do Cristianismo, o que não seria lógico, pois ambos são religiões. Se o Cristianismo se adequou a vida de algumas camadas no Império Romano, o Islamismo também o fez nas nações que futuramente seriam componentes do Império Islâmico.
     Os povos semi-nômades receberam uma forma de unidade política com o Islamismo. A difusão do Islã é rápida e, a partir daí chegamos ao cerne de uma religião.
     O que seria esse "cerne"? Seriam os princípios dos quais elas necessitam para se conseguir o poder. O que eu observei durante a minha busca? Uma das coisas mais importantes aprendi a poucos dias. Foi dita por um provável futuro historiador. Foi: "Um Estado morre com seu governo, sua doutrina morre com ele. Porém Deus é uno, perfeito e infinito. Deus nunca morrerá." Então, digamos que as religiões construíram uma forma de poder que pudesse seguir por séculos e séculos, como tem sido demonstrado até agora.
     Isso tudo justifico com uma forma de controle. Sim, a religião é cheia de formas de controle. Vamos aos exemplos. A Bíblia, nela está escrita os ensinamentos de Deus. Existem os mandamentos. No caso do Islã o Alcorão. Existem muitas religiões, mas cada uma prega que é a certa. 
    E o mais importante, coisas que são ditas como verdade na religião entram em confronto com a Ciência.*
     Chego em um estágio do texto, que quero já adiantar o que vem por aí. Primeiro uma observação. Antes quis apresentar tudo isso para poder falar de uma coisa em especial. O Conhecimento, sim, era aí que eu queria chegar. ( Não acharam que eu ia simplesmente falar da nossa Sociedade, eu sempre me importei mais com o conhecimento.) Essa observação seria: 
     Atualmente o Conhecimento chega mais bem-recebido às religiões, mais em algumas do que em outras. Mas por que isso acontece? Bom, vamos fazer uma análise. Na Idade Média, no começo e no auge do Renascimento, a ciência foi muitas vezes feitas às escondidas, e foi perseguida principalmente pela Igreja. Mas as religiões não são más e querem acabar com a Ciência. Elas estão apenas se protegendo, pois coisas que antes eram aparentemente inexplicáveis, são explicadas pela Ciência. Faço até uma brincadeira, quando Deus criou o mundo, o fruto que não se podia comer, era o fruto da Árvore do Conhecimento do bem e do mal. A partir daí tirem suas conclusões.

Mecanismo estético: Maquiando...

     Você liga a televisão, e o que você vê? Pare para pensar nisso. O que você vê naquela maldita tela de não-sei-quantas-polegadas?! A informação que chega a você pela maioria das formas de comunicação é manipulada. A mídia é a nova ditadura.
     Acha que eu estou exagerando? Então pense comigo meu amiguinho, se você fosse um chefe de Estado, você deixaria que informações que atrapalhariam a ordem e o controle veicularem? OHOHOHO Agora eu fui ridículo não? É claro que não é assim. Por isso é a nova ditadura, pois aparentemente está tudo bem. E é isso que querem que você pense, que está tudo bem. 
     Vejamos exemplos, existem outras formas de fazer com o que a ordem seja mantida. As piores revoluções não são aquelas armadas e revoltosas, pois para isso existe o que se chama e de exército. O pior tipo de revolução é a REVOLUÇÃO INTELECTUAL. Imagine se todos tomassem consciência de como está o país, e exigíssemos novas leis e o fim da corrupção?! Se conseguíssemos, todos os chefões estariam fora, pois a corrupção está no topo. Se você fosse eles, deixaria isso acontecer? É claro que não. 
     Então, para impedir que algo do tipo aconteça, existem medidas simples que podem ser tomadas.
Algumas delas são: 
  1. Investir em uma cultura pobre, onde não é preciso muita inteligência para se gostar de uma arte. As pessoas mantêm um nível intelectual baixo. Consequentemente, artistas ruins se dão bem, e artistas bons não tem espaço nesse mercado, pois o trabalho deles exige maior conhecimento
  2. Fazer as pessoas esquecerem dos problemas: Formas? Várias. O Futebol é uma delas. Por que o brasileiro vai ficar se preocupando com a fila do SUS, e com tanta corrupção, se quarta-feira é o jogo do time favorito dele? Ele é FANÁTICO pelo time! Por que diabos ele vai ligar se a conta de luz aumentou e se o Carlos Cachoeira foi preso?!
  3. Dar uma dose de esquecer os problemas e dependência, além de um belo mercado: Álcool.

Estado: O poder

     O Estado. Esse mesmo elemento, se faz presente há muito tempo, e tudo gira em torno dele. É muita coisa para se dizer de um Estado, pois eles, diferente das religiões, são mais diversificados. Então meus amigos, resolvi falar de um Estado em especial. E o que mais importa. Aquele no qual eu vivo. O Brasil.
     Mas fiquem tranquilos, para falar dele posso resgatar muitos princípios. Então antes, minhas maiores indignações.
     O Conhecimento aparece novamente por aqui. O que anda acontecendo? Parece que vemos cada dia menos intelectuais, menos pessoas lendo, menos interesse por assuntos interessantes. Vou tentar responder a isso, primeiro fazendo um esquema
      Tomo muito cuidado, para professores de Geografia e Sociologia não me xingarem, mas vou tentar fazer o meu melhor. Eu encontrei essa grande máquina presente no Brasil. Ainda que não pude vê-la, mas sei que está por aqui. 
     Tudo se resume: Preguiça e Acomodação. Eu já escrevi um texto sobre Incomodação, enfim, acomodação obviamente é o contrário de tudo que escrevi lá. Essa preguiça não é uma preguiça comum. É uma preguiça necessária. Cada Estado desenvolve seu jeito de controlar, o do Brasil é o do emburrecimento de uma grande massa. 
     Quando você não procura aprender, você  se torna cada vez mais controlável. É fácil prever as ações de uma pessoa que não se intelectualiza. E o que se mais vê por aí são pessoas previsíveis. Aquelas que quando você pergunta: Você gosta de ler? Resposta: Não. Você gosta de estudar? Não. Então é melhor você parar por aí...
     Isso é visível no Mito da Caverna de Platão. Pessoas acorrentadas que não veem o verdadeiro conhecimento, mas só uma sombra dele. Aqueles que se libertam das correntes da Ignorância são odiados por aqueles que não conseguem ver como é bom não viver mais na escuridão da Caverna. 
     E foi Sócrates... O exemplo histórico, morto por questionar, morto por simplesmente questionar. Os poderosos não gostam de questionamentos que põe em risco suas formas de governo. Isso é mau para os negócios. Pois nenhum sistema de controle é perfeito. Então eles querem pessoas que não achem as falhas no sistema, ou seja, pessoas idiotas e indolentes.
   
Caso encontrar ligar para:

     Ainda procuro que máquina é essa. Se você souber me diga. Se alguém encontrar, vou ficar muito feliz. Pois já não aguento mais carregar essa pecinha, que pesa muito. Se você teve a capacidade de ler até aqui, meus parabéns meu amigo, você é a minoria da minoria. Muitos não sabem ler e muitos não querem ler. Sei que só falei coisas que já são sabidas. Mas são sabidas e ninguém as denuncia. Não vou mudar o mundo, vou mudar a mim mesmo.
     Existe uma história que diz que um político muito importante estava tentando mudar o mundo. Então, o filho dele entrou no escritório e o ficou atrapalhando o homem a fazer o seu trabalho, então o homem resolver entreter o menino com alguma coisa. Procuro e achou o que precisava, uma mapa do mundo em uma revista. Então ele recortou o mapa em vários pedacinhos de deu para o menino montar. O menino que tinha apenas cinco anos demoraria para montar o mapa. Se conseguisse.
     Assim ele esperava ganhar muito tempo. Após alguns minutos o filho retornou : "Terminei papai". O pai que esperava ver o trabalho digno de uma criança, viu o mapa corretamente arrumado. Então perguntou: "Como fez isso meu filho?!" A criança inocentemente responde: "Ora papai, quando você me deu o mapa, eu achei muito difícil. Mas daí me lembrei que no lado oposto da folha havia a figura de um homem, então como eu já conhecia o homem, o consertei. Então quando virei a página, vi que ao consertar o homem, também havia concertado o mundo!"
     Eu vou tentar fazer a minha parte. Vou te dizer, é muito difícil. Você pode pegar alguns atalhos por suas virtudes e por seus princípios. Mas se tem algo que realmente nos impulsiona é ter em mente uma verdade.
      É ela: Eu não espero morrer e ir para um paraíso, eu não espero morrer e ir para um inferno. Se eu viver mais alguns anos já está bem. Vou tentar apreciar o máximo possível, por que sei que essa pode ser minha última chance. E além disso, existe tanta coisa bela por aqui! Vejo pessoas incríveis, algumas que quase mudaram o mundo. Outras que deixaram seu legado de paz e de luta pela igualdade, pelo amor e pela justiça. Quero honrá-los.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Susto

     É de surpreender. Me peguei assustado hoje, lendo um texto de meu blog. "Eu escrevi isso?". Mas amigos, não pensei isso por que estaria muito bom, ou algo do tipo. Pensei simplesmente por perceber um pensamento momentâneo, só que gravado em letras. Explicarei melhor. Desenvolver!

     Sempre tento evoluir. Me intelectualizar, uma atitude normal e obrigatória de qualquer um que esteja no caminho da verdade, a procura dela. Deixemos de lado por hora, o que seria essa verdade.
     Tento sempre ignorar minhas limitações, primeiro passo. Tento sempre me aprimorar mais, segundo. Só que nesse caminho, diante de tantas possibilidades, às vezes acontecem alguns "momentos". Esses momentos são muito especiais. A expressão "perder a razão" no seu sentido popular, e não literal, exemplifica bem isso. Quando esses momentos acontecem, muitos o associariam a certa Inspiração, que no caso, me leva a escrever.
     Uma pessoa, que através da ira se cega, é uma boa metáfora a qual me comparo nesses momentos. Não vejo nada, a não ser o que estou fazendo, concentração talvez quase total? Ainda quero explorar mais isso. Por hora apenas relato a vós, para ver o que isso é para vós, quais as diferenças.
     E quando leio algo desses momentos, o pensamento volta até mim, me surpreende, ganha novos moldes. Foi quando me referi, pois foram gravados nesse blog, em letras, e não perdidos como muitos outros pensamentos. Então, quando superficialmente tinha me "esquecido", posso lê-lo novamente. Desenvolver outras ideias sobre eles. Mas nunca acho que devo modificá-los. Estão ali pois representam aquele momento, e não devem sofrer alterações. Eles são minha ficha intelectual, dividida cronologicamente.
Por agora relerei todo meu blog, e vou renascer.
     Se bem que hoje estou calmo... Tranquilo, não diria adormecido. Apenas pairando.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ensaio de Ser bom

 Antes de tudo, vou prepará-los com uma história que me inspirou a escrever tudo isso, é a história de Ernani, se você já conhece, leia novamente, pois eu fiz o mesmo hoje, e isso provocou reações diferentes daquelas que tive a primeira vez que vi a história. Leia, e depois veja os verdadeiros milagres a sua volta: Uma mãe que consegue trabalhar o dia todo, e ainda comprar balas para o seu filho. Um adolescente que diz não as drogas. Muitas vidas, que se fosse necessário, seriam, voluntariamente ceifadas, para salvar a tua.

O texto não tem autor conhecido:


     Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de engenharia. 
     Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro... ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças. 
     Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo, sempre quieto, inofensivo, à parte. 
     Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala; ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante. 
     Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo, ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu e o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo. 
     Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal, antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós. 
     No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes, Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. 
     Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós, mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte. 
     - Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras ! - disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo.
     Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço; cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia: 
     - Obrigado ! 
     Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último, era para o Ernani. 
     Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. 
     Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer. 
     Ernani não era o tipo de muitas palavras, ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto; em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo, por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.
     Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto; foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. 
     Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção. 
     - Eu sabia que você não ia se esquecer de mim - disse com a voz embargada. 
    - Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração - ele engoliu em seco novamente e continuou falando, dessa vez para todos nós. 
    - Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção... sabem, eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama e estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. 
     - Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela e a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. 
     - As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa... vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita. 
     - Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim, provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos... 
Ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos. 
    - Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos... e ele começou a abrir o pacote... 
     Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro, mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani, mas era tarde demais. 
     Ernani já tinha aberto o pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe. 
     Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu, todos nós ficamos olhando para baixo e a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente: 
     - Obrigado ! 
Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani. 
Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu.

Agora eu assumo daqui.
****

    Inspirado em uma passagem da bíblia, no texto acima e em questões que me tiraram da razão ultimamente, vou fazer um panorama confuso. Um texto que serve para mim e para todos. (Mas especificamente para um grupo de pessoas que vê a vida de um jeito diferente)
     Os princípios de uma religião, onde se tira a parte da recompensa divina e os deixa soltos. Essas atitudes fazem sentido dentro de uma doutrina, onde se acredita que haverá recompensa. Mas e quando não há retorno?


Bem-aventurados os misericordiosos.


Me dê sua pena? Quando devo ter misericórdia? E quantos já não foram enganados, e quantos já não foram humilhados e agredidos, mas estes não fizeram nada contra vós, não fizeram nada. E vós não entendestes aquela reação. Pois vós pelo menos até aquele instante, desconhecestes tal ato. Como quereis entender algo que não praticais, devidamente por não dominares tal conhecimento?
     Os que dançavam eram considerados loucos por aqueles que não ouviam a música. É desta atitude que estou falando! Essa "misericórdia" pode ser ensinada, então ensinemos!



Felizes as pessoas de coração puro.


     Como é difícil, conseguir entender a diferença de se ter um coração puro, e de não ter lábia. Eu me pergunto, e pergunto a vós, não parece que onde nós vivemos, nas relações pessoais, comerciais e tantas, é impossível ter "coração" puro? Sejais puros, mas não sejais ingênuos. 
     Clamo ardentemente a sua compreensão, de que é tão bonito a complexidade das interações. Não devemos perder a "política" humana de interagir, recriar e criar informações, se comunicar. Só preservemos a nossa essência.


Felizes as pessoas que trabalham pela paz


     Se as pessoas que trabalham para a paz conseguirem um pouco dela, tenho certeza de que já valerá a pena. Todos esses SENTIMENTOS dos quais não sei muito, e ainda falo deles, todos saem um pouco do racional. Saem um pouco do real. Por que o humano se sente bem em ajudar o outro sem ganhar nada em troca? Por quê? Se tu me respondes com qualquer coisa, te desafio. Tens certeza? Proves. Estás vendo? Aí está minha dúvida, não é provável...


 Alegrai-vos e exultai pois não sabemos onde vamos parar, e a contradição nos enforca. Alegrai-vos e exultai, pois te falta sentido em suas ações, e você se considera um homem da razão. Racionalmente então, por quê? EU pergunto a mim e a ti, por quê? 


Terra de bons homens

     Se vê muita caridade por aí, não podemos saber quanto de maldade e quanto de bondade existe, qual seria a  proporção. Estou nesse momento, passando frio, por que me despi da roupa da razão, e pareço delirar.
     Me peguei fazendo o bem um tempo atrás, sempre fui assim, nunca precisei de reconhecimento. Mas agora paro, paro por que tomei uma atitude drástica há pouco tempo, e o sentido de fazer atos bons, se vê perdido. Escute em silêncio, você não me deixou terminar de falar. Aqui é assim, eu falo tudo, você escuta.
     Diferentemente de quando tomei minha atitude, agora parece que mesmo faltando razão em fazer o bem, não consigo abandonar isso. Está em mim.
     Se podem me ver agora, como estou nu, sem meu manto de razão, podem enxergar a grande dúvida que está gravada em minha pele. Fui um homem que conseguiu aceitar talvez a verdade mais cruel de todas, de bom  grado. Mas só pude fazê-lo, pois não sofri tanto aqui. Nem chegou perto do que tantos sofrem. Mas acreditem, se eu tivesse sofrido, não poderia aceitar a verdade, e me perderia. 
     Nunca me perguntei algo tão crítico! Criticamente instável e perigoso. Ser bom, por quê? Chego a um ponto onde vejo que poucos poderão lidar com meus questionamentos, pouquíssimos. Fico me perguntando, quantos serão que vão conseguir no mínimo lidar com isso? Um? Dois?
     Pretendo responder, mas, pela última vez, não existe última resposta. Essa é uma prova que podemos entregar, e depois corrigi-la, mas sem receber uma nota. Quando o tempo da prova vai acabar? Isso eu não sei, chutaria a nossa morte, não? 
     E mesmo assim, é tão bela. Como vale a pena, estar vivo, aqui, agora. É tão perfeita, se me dispo da manta da razão, a coloco dobrada sobre a cabeça, nunca a deixaria tocar o chão. As possibilidades sensitivas são maravilhosas, a capacidade de pensar, cacete, esplêndida.
    Não gosto de questionar perguntas que são de uma metafísica clichê. Mas sim de uma pitoresca, para mim, é óbvio! E quais seriam essas? Não é preciso invocá-las nesse momento, digamos por enquanto: Seriamos nós, o Universo tendo consciência de si?
     Se assim o for, propomos que existam outras consciências, por aí. Mas ainda somos isso que a linguagem chama de humanos, somos usantes de qualquer tipo de comunicação e expressão desenvolvidas por outras pessoas. Ah! Sim! Era aqui que eu queria chegar... Outras pessoas! Amar! Amar!
     Me permitam, mais uma vez: Por quê? Criamos algo tão forte, tão forte... E como dói perder alguém.
     Quero, em razão de tudo que você leu, se você chegou até aqui, dizer o quanto misterioso você é! E se um dia, se um dia meu amigo, ou se um dia minha amiga, eu entender uma parte infinitamente pequena do que você é, eu vou poder descansar em paz. Obrigado, e mais amoroso do que qualquer apaixonado, eu digo para você: Eu te amo.


E o fim da história de Ernani:



Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças. 
Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito; Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico; Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio, elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados. 
O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em engenharia, sendo que, hoje, é o diretor geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos. 
Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras, entretanto, são de um tipo muito diferente; ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos. 
Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos... nunca lhe demos a devida atenção, não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela ignoramos suas ansiedades ou seus problemas.
     

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Propensão

1."O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros"


Finalmente irei discutir o primeiro provérbio. Para um bom começo de mês, não nego estar em minha fase espiritual.

     Vou falar desse provérbio, contando uma história:
     Um velho sabido fazia muitas coisas aparentemente inúteis, mas sempre ensinava as pessoas, que "Nada de bom pode vir a uma nação cujo povo reclama e espera que os outros resolvam os seus problemas." 
     Foi então que um dia, durante a madrugada, ele resolveu arrastar uma grande pedra para o meio da estrada... Durante o amanhecer se escondeu em uma árvore ao lado da estrada e esperou.
     De longe vinha uma carroça cheia de sementes para o moinho e um fazendeiro vinha em cima dela. Quando se aproximou da pedra disse:
    — São mesmo incompetentes! Como me deixam uma pedra no meio do caminho?! — Dizendo isso, foi contornando a pedra e desapareceu pela estrada.
     Se avistava agora na estrada um jovem soldado. Estava tão animado para ir para a guerra! Nem viu a pedra e se espatifou no chão!
     Ele se levanta, desembainha a espada e brada: 
     — Espero poder encontrar com o responsável por essa pedra! — Ele se afastou e não pensou por sequer um momento que poderia remover a pedra.
     E assim foi até o anoitecer, as pessoas passavam e reclamavam da inconveniente pedra, mas sempre sem a remover de lá. 
     A filha do moleiro, que já estava cansada de tanto trabalhar no moinho, também passou pela estradinha... Quando avistou a pedra pensou: Tamanha pedra no meio da estrada! Estou tão cansada, mas se ela ficar aí, pode ferir gravemente alguém que não a percebeu! E então, a jovem começou a fazer força, e tentou remover a pedra. Como era difícil! Ela não se movia! Mas a moça não desistiu, tentou novamente com todas as suas forças, e enfim conseguiu.
     Quando ela retirou a pedra do lugar, percebeu que jazia ali uma caixa. Examinou e a pegou em suas mãos. Era pesada, muito pesada. 
     Finalmente abriu a caixa, e dentro da mesma, havia ouro! Ela ficou tão feliz que foi correndo para casa. 
     Depois que a história se espalhou, as pessoas que haviam passado pela pedra voltaram ao local e espalharam a poeira para tentar achar qualquer lasquinha de ouro, por mais mísera que fosse. Foi então que o velho apareceu e disse:
     — Meus amigos, com frequência nos encontramos com problemas no caminho, podemos assim, simplesmente ignorá-los. Mas quando os desvendamos, quando os enfrentamos, podemos encontrar um grande significado.


Autor Desconhecido - Adaptado por mim