sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Farewell Song

     Pra lá de sugestivo, não?


***


     Hei de promover um trauma neste blog. A intermitência que caracterizou a assiduidade com que aqui escrevi chega ao seu derradeiro intervalo. São tempos de abandonar um futuro considerado arcaico pela minha nova conjuntura, e faço-o ao findar o meu cântico neste espaço. Cesso a escrita compromissada, aquela incumbência aflitiva de gravar meus pensamentos. Nunca a desvalorizarei, ao contrário, reconheci nela grande parte da minha essência na escrita, assunto que discuti pormenorizadamente em um novo ambiente.
     O meu Senso Incomun é uma das relíquias de minha existência. É racionalmente pecaminoso em vários pontos, confuso noutros e reconhecidamente irreconhecido; nada disso importa-me. Nunca me afastei de meu objetivo mais sublime, que foi deixar nuances das minhas experiências mais marcantes. Encerro aqui uma ferramenta mnemônica que transcende a simples recordação. 
     Minha memória é, no mínimo, esquisita, mas sei que deixei aqui gravado os momentos dos quais não posso esquecer-me, pois creio que muitos outros, hão de esvanecer.


Não me esquecer de mim

     Nunca pude confabular profundamente com um amigo a ponto de identificar uma verdadeira negligência da minha memória. Ainda assim sempre cismei com algo semelhante, já que meus amigos se lembram de situações tão específicas e pontuais como os professores do ginásio, os colegas de classe e até mesmo algumas experiências compartilhadas comigo das quais não guardo menção nas prateleiras do meu cérebro.
     Sei que devo levar em conta que as pessoas têm suas memórias advindas das diferentes impressões que sofreram, essas sempre sendo muito subjetivas e individuais, mas se eu depender apenas dessa premissa acabo por concluir que muito da minha vida passou simplesmente desprezado, como se eu estivesse sempre ocupado, entretido com algo que me desviasse ou pelo menos dificultasse minha atenção às cenas rotineiras.
     Hoje paro e fico abismado com as proporções que esse blog tomou em minha vida! Como pôde seguir tanto adiante? Persistir, endurecer frente aos desânimos e ser resiliente o suficiente para suportar o ocasional enfado de um adolescente que poderia simplesmente desistir de usar seu tempo para escrever textos quase nunca comentados? E fico extremamente aliviado em vislumbrar essa pequena história que contei ao longo de dois anos. Meu ensino médio criptografado em alguns textos e reflexões pueris.
     Nunca deixarei de surpreender-me com algo que escrevi. Não por deleite estético, mas sim pela franqueza e ardor com que escrevi cada texto desse blog, a vontade de expressar, de lançar ao julgo alheio tantas perguntas, de mostrar revolta, demonstrar conhecimento, desmontar preconceitos. Essa é uma das grandes experiências que aponto em minha adolescência. Enquanto há aqueles que possuem aventuras muito mais vendíveis num cinema de shopping, extasio-me por dentro, deliciando - me silenciosamente por reconhecer que não exitei em construir algo de valor. Eu já fiz um pouquinho do infinito que ainda quero fazer, mas, com certeza, não ficará perdido nas catacumbas da memória.


Conversa entre amigos

     Saudável. É como descreveria a busca por reconciliação, a qual venho febrilmente aplicando em cada desatino, os laços dos quais tanto falei passam por um revigoramento que nunca existe por si só, nunca é natural. Deve ser ativamente exercido; é principiado por uma das partes mas somente gera frutos quando promovido em conjunto. Os problemas que enfrentei com as pessoas que muito estimo, foram dissolvidos com uma conversa entre amigos, a melhor forma de confraternização de um laço.
     E quando paro para pensar no quão bom foi parar de sofrer em silêncio, interrompendo a remoção de sofrimentos, martelados com a precisão de que nossa alma consegue investi-los para enfim expor, MOSTRAR! REVELAR a angústia ao sol! onde ela sôfrega ainda resistiu por certo tempo, mas enfim esmoreceu devido a ausência de um refúgio. Esse refúgio é alma cansada de cada um, parasitada por males que não resistiriam à confraternização de duas pessoas.
     É preciso ter essa audácia, de expor o problema. Por mais cataclísmico que possa parecer, ele só o é guarnecido em nossa mente frutífera, imaginativa e egoísta. Damos a esses assuntos habitat para que possam crescer, tomar proporções grotescas as quais são ridículas quando observadas por dois seres humanos. É claro, essa audácia só pode ser cogitada quando a soberania interna é conseguida. Ser soberano sobre seu ser, é nada menos do que não ter medo de viver aquilo que você deseja viver.
     Caso essa soberania não seja alcançada, o compartilhamento de uma angústia torna-se fútil e vazia. Um exemplo interessante e impossível de não ser incluído nesse texto é a realidade de uma pessoa com schizophrenia. A ilusão deve ser combatida, mas somente à luz daqueles que não estão submersos. Somente assim é possível reconhecer a falsidade de uma suposta realidade e, no nosso caso, promover o fortalecimento de um laço.
     Esse blog sempre foi a preliminar de uma conversa entre amigos, tamanho é seu valor.


Por fim

     Há tempos me perguntava qual seria o sentido da amizade se mesmo meu amigo mais próximo não entenderia, nem se identificaria com alguma situação pela qual eu passasse. Essa pergunta por muito pairou sobre minha cabeça, e isso é uma ameça perigosíssima para o meu ser, pois uma pergunta não respondida tende a perdurar-se até tornar-se insuportável. Salvo algumas que não passam de uma importunação mental. Agora sei que é justamente por não entenderem, e por não se identificarem com meu problema que eles são tão preciosos, pois somente alguém alheio a uma dor, porém amável para com aquele que sofre é que pode resgatar esse último da sua própria desgraça.
    Só pensei nisso ao escrever minha despedida, o que revela que mesmo quando menos espero, ainda posso obter sabedoria desse lugar. Por fim, há muito não me dirijo a você dessa forma; caro leitor. Porque sei que muitos leram, e eu sempre também escrevi pensando em vocês. Não paro de escrever, e  é possível encontrar o lugar onde agora escrevo (muito facilmente isso seria feito). Num primeiro momento, porém, não sinto vontade de divulgar esse outro reduto de minhas palavras. Inté e boa sorte.



Arthur,




médico o caralho.....   

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A dor da cura

     Um copo de suco de beterraba e cenoura,  uma refeição de quiabo, batatas, arroz e feijão me acompanham na escrita desse texto. Estou no meio de uma rotina recém-adotada pela minha pessoa - cai entre nós que ela é meio cansativa - mas retiro precioso tempo de meu dia para escrever.
     Eu estou perdido, como sempre, não?
     Você... que acompanhou alguns textos desse blog, o quanto você já não me viu questionar, apresentar e debater comigo mesmo? Você que talvez tenha essas como minhas primeiras palavras, e espero sempre que elas sejam acolhidas com a mesma intensidade com que escrevo-as, deve saber que meu ser está em constante turbulência, e a maresia é premonitória de um acesso de raiva ou da profunda tristeza que por vezes me acomete. 
     A estabilidade. Preciosidade do nosso universo, eu diria. Todo sistema estável tende a perpetuar-se. E quando digo estável, não quero dizer inerme ou fixo, visto que vejo o próprio caos - nas circunstâncias corretas - como exemplo de estabilidade.
     Falho em responder se sou instável ou o oposto. O que posso dizer é que, de tempos em tempos, meu ser condena-se a uma intensa vigília que culmina no ato de escrever e/ou numa ação mais "concreta" da minha pessoa, por vezes uma mudança de postura. 
     Conscientizo-me de que muito mudei desde meus primeiros rabiscos sérios neste blog. Foi uma transição saborosa e transbordante de mim. Mas agora, à meu próprio pedido, respondo que a principal diferença entre este que vos escreve e aquele que há tempos fez o mesmo é a gradual percepção que a razão me falha, por mais que eu quisesse negá-lo. 
    Numerosas vezes ao dia, e por mais que tente ser racional, só irei fazê-lo em momentos nos quais minha então serenidade não permitirá senão apenas isso. Noutros momentos (tristes, não por serem taciturnos, é que entristecem-me por sua existência) em que me perco por entre meus traumas, a maioria dos esforços são em vão.
     Isto se dá porque a situação capaz de desestabilizar o indivíduo é justamente a última que ele desejaria tratar racionalmente e, salvo a raiva mais animalesca, o sentimento de fúria está intimamente relacionado com o medo.
    Existem vários fronts de combate. A maioria deles se dá sanguinária e violentamente em gigantescos campos abertos, posteriormente tingidos do vermelho vivo de cada combatente, podendo ser cada um uma pessoa ou uma pessoa cada um deles. Lutamos. Convivemos. Temos nosso próprio exército, convocado pela evolução e pela sociedade humana. 
     Porém, não são essas as mais difíceis batalhas de serem travadas. 


     Dentro duas tuas muralhas

     " - Afirmaste certa vez - disse-me um dia - que a música te agradava por ser totalmente destituída de moralidade. Está certo. Mas o que importa é que também tu não sejas moralista. Não há por que te comparares com os demais, e  se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser avestruz. às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos. Meu caro Sinclair, nosso deus se chama Abraxas e é deus e demônio a um só tempo; sintetiza em si o mundo luminoso e o obscuro. Abraxas nada tem a opor a qualquer de teus pensamentos e a qualquer de teus sonhos. Não te esqueças disso. Mas abandonar-te-á quando chegares a ser normal ou irrepreensível. Abandonar-te-á em busca de outro cadinho onde possa cozer seus pensamentos." 

     Longe de mim está a intenção em discorrer sobre as dualidades. Tamanha barroquice não se encaixaria em meu pensamento, pois é tão contraditória às minhas ideias quanto firmar-se numa premissa que é baseada num pensamento que a nega.
     Invocar conceitos como o certo e o errado também não me ajudarão neste texto, porém, posso deslizar nossa conversa sobre alguns pensamentos existenciais que me ajudarão a expressar tamanho desejo. 
     Escrevi sobre o Reconhecimento Egoísta no último texto que postei. Fechei-o com a frase: "O fato de que todo mundo é sozinho, me consola." A mais pura verdade sobre a minha pessoa, e apresentei o fruto da minha árdua busca por uma solução para o egoísmo humano. Reconhecer o próprio egoísmo no outro, para que assim querer teu bem poderia ser um interesse de muitos outros além do seu próprio. 
     O mais interessante de conversar com o ser humano puramente egoísta dentro de cada um é que não importa o quanto você, prezado leitor, tente impedir. Posso conversar livremente com esse teu lado considerado obscuro, com sua anuência ou não. 
     Claro que se o puro egoísmo faz parte das masmorras do teu ser, assim o é porque ainda não se atreveu a pensar livremente, a cultuar o nada, o neutro. Há quem diga que o nada é a ausência, e que o neutro é o cancelamento; o zero. Não os vejo assim, e se tomasse tais termos para aludi-los não faço pensando na ausência, mas sim na presença de dois opostos. 
      Às masmorras do teu ser, nada que te pertence deverá ser atirado. Tudo que te faz deve permanecer ao lado de toda sua guarnição, pois somente assim será rei de tudo, dos cavaleiros, da plebeia, dos mercenários e assassinos que são tu. 
     O trecho de Demian pareceu-me assaz oportuno para dizer sobre meu estado atual, ao mesmo tempo que compartilho convosco tamanhas relíquias (excerto e o pensamento nele contido). 
     Não leve para dentro dos teus muros a lei do outro. Que transpareça apenas o que tu permitires, mas nunca permitas que habitem a sua mente preceitos e condenações. Seja demônio e deus ao mesmo tempo.
     Antes de falar do obscuro de um castelo mal-assombrado, peço que nenhum homem seja esquecido da tua armada, senão, sucumbirás.
     
      Intocáveis

Hello darkness, my old friend
I've come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left it's seed while I was sleeping
And the vision that was planted in my brain
Still remains within the sound of silence

     Incubo-me de não permitir que olvides de minha afirmação sobre as guerras travadas. O sentimento nelas contido é de exasperação, encorajadores estandartes crescem de um imenso exército, o ar da batalha está no sangue de cada combatente.
     O desgaste é incomensurável. O preço simplesmente muito alto. Mas reitero: existem desafios mais árduos, mais assustadores, eu diria. 
     E então invoco meu objeto de análise que apareceu timidamente no primeiro subtexto; medo. O medo do escuro nunca nos abandonará, ele só transmuta-se, para nosso horror. 
     Primeiramente é preciso nos organizar, pois quero exatamente chegar naquilo que te perturba. Para isso descreverei, e rogo pela sua máxima atenção. 
     Com o tempo é via de regra percebermos que existem certos assuntos que nos perturbam de uma maneira estranha, excêntrica. Muitas vezes não conseguimos achar um motivo racional para tamanho desiquilíbrio estabelecido quando alguém toca nesses pontos. Porém, quando nos inserimos nesse estado, a consciência de como estamos nos comportamentos esvanece. E é por isso que será muito difícil encontrá-lo, naturalmente não queremos pensar nele, evitar, evitar, evitar; essa é a ordem geral do nosso cérebro. Portanto se esforce. 
     Nossas grandes falhas, principalmente nossas piores frustrações. Procures por aí. O ato de conscientização é tudo, por isso, o mais difícil de se concretizar. Ter consciência por exemplo, que vens negando todas essas frustrações por meio de desculpas, e não me refiro preferencialmente àquelas dadas aos outros, e sim as mentiras que contas para ti mesmo.
     Porque dói reconhecer... a realidade, a incerteza, e aqui perdemos a batalha. O medo finalmente se apodera, a morte reina e leva não apenas os mortos, mas a essência dos vivos. Retornando à perspectiva na qual estais sozinhos, porque não encarar? Encara-te. Tenho me voltado para essa batalha às cegas ultimamente. 
     Eu vejo as pessoas o meu redor esperando outros de mim. Eu não vivo meu eu mais genuíno, e isso me corrói, me desespera pensar que posso estar omitindo a informação mais valiosa que poderia compartilhar com o universo. E pior, escondo-a de mim mesmo. As amarras nunca são completamente cerradas, existe uma maneira de fugir, de libertar-se.
     E se ainda tenta convencer-te que não existe mais possibilidade, lanço uma luz - talvez - e digo que há de se desprender das pessoas, pois como disse anteriormente essas não acompanharão tua jornada, não são garantias, tal como nossa permanência aqui não é. Pense... e que isso não soe como uma filosofia barata, isso me enoja. Não se trata de uma conversa de fim de semana, de um papo jogado fora, de uma tentativa de mostrar sua inteligência disfarçada numa conversa racional... Longe disso, eu nunca escrevi para mostrar filosofias, sim, escrevo para ver o que vós achais da minha escrita, dos meus pensamentos, para identificar se compartilham...
     Eu disse anteriormente que estou aprendendo a enxergar quando normalmente ficaria cego, pois eis que digo que com toda certeza possuir esse blog faz com que meu ego se inflame, reconheço. Admito que muitas vezes tomo gosto por fazer meu conhecimento ser apreciado por meus mestres, e por aqueles que admiro em contrapartida, mas nunca foi apenas isso, na verdade, ao reconhecer posso dizer realmente que foi um verdadeiro monólogo. Escondido atrás de uma árvore recitando palavras, porém ansiando por que alguém que por ali passasse ouvisse-as e me desse sua atenção. Pois também me sinto sozinho.
      Tudo isso é verdade, mas esbarra no nojo em que sinto dessa mesma atitude. Talvez tão indissociável que é preciso sofrer para encará-la. Eu tô a fim de levantar dessa sombra e seguir um novo caminho. 
      Mas não, não ouseis dizer que venho aqui e jogo tudo isso ao léu, esperando reconhecimento, esperando que aumente meu ego e apenas! Existe um motivo para mostrar tudo aquilo que sei para meus mestres, para olhar com um olhar diferente para aqueles que à mim se apresentam interessantes. É porque é do meu maior interesse provocá-los, ver o que reside dentro de cada um... E sei, sei que nada ganho em admitir tudo isso, e como eu mesmo disse, o egoísmo humano antecede todas suas intenções por mais nobres que possam parecer. 
     Eu menti quando disse que encontraríamos o que te perturba. Não existe maneira confiável de se fazê-lo aqui, porém, entreguei tamanha confissão, pois não pensei em melhor forma para demonstrar. E vou além, ao fazer isso, comecei a viver um pouco mais do meu eu verdadeiro, obrigado por ser meu comensal nessa experiência. 
     E por isso que acho várias conversas tão vazias, porque não consigo sentir genuinidade, amor a um conhecimento ou outro. Ver muitas coisas que faço apenas por aparência e omitir meu verdadeiro eu; são essas atitudes que me assombram, e não existe melhor palavra para se descrever esse sentimento.
     




Existe muito mais para se dizer, mas muitas vezes são palavras amargas, amargas como o gosto do remédio. Duras de se encarar e que causam dor, uma dor que vamos procurar evitar até nossos últimos dias, a dor necessária para sarar.

Pois havia frango no meu jantar. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Reconhecimento Egoísta

     Eu não sei como tudo isso me atingiu hoje, nem discuto o valor que essas palavras têm para mim, é para mim, incomensurável. Foi talvez por ficar insistindo nessa pobre escrita que consegui finalizar um quebra-cabeça muito difícil de se completar, curioso que, ao terminar de reunir as peças descobri porque fora uma tarefa tão árdua; se tratava de um espelho.  


O caolho atirou a primeira pedra

     A vivência petrificada em rancor.
     Durante todo o meu histórico nesse blog, (nessa vida praticamente) não parei de repetir a mesma ladainha. Eu não sofri. Isso é fato, é componente essencial, ingrediente do que sou hoje, agora. Frisar isso foi realmente um objetivo concluído, mas mesmo admitindo isso, parece que um sentimento de aversão é nutrido a quem "não conhece a vida", por quem não sofreu.
     Esse sentimento nunca me causou revolta, mas me interessou intensamente, fica até difícil expressar aqui o impacto, toda vez que entro em contato com essa visão. Essa visão me corta ao meio, me joga no lixo. É o lembrete de uma raiva latente que muitos nutrem por qualquer um que caia na desgraça de não parecer "sofrido" o bastante.
     Nesse parágrafo "intermediário" digo que sempre haverá alguém acima e embaixo de você. Esse jogo, é só para quem quer perder.
     Foram vários suspiros quando isso aconteceu. Mas de que vale? Questiono-vos, que  vos colocásseis como possuidores de uma experiência que vos faz "vivido". Eu não nutro qualquer sentimento de aversão por aqueles que mal-sabem da realidade, e quereis saber? ó possuidores desse saber, eu não quero aprender nada com essa face escura da vida, se dela vou tirar o ódio para aqueles que nunca vislumbraram-na.
     Sua raiva e sua aversão são motivos suficientes para atirá-los ao chão e despi-los de qualquer sentimento de sapiedade. Eu sei, sou um garoto. Mas você, depois de tudo que viu, ainda rivaliza, com um garoto?
 

Muda-se o discurso

     A bondade do forte é hipocrisia para o fraco era um dos meus lemas até certo tempo atrás
     A bondade é traiçoeira, bem, meu assunto com ela está longe da acabar. É um dos primeiros questionamentos que eu fiz, e se consegui-lo, um dos últimos que responderei. A bondade, justificada por moral advinda de qualquer doutrina é decididamente falha, ela deve ser prescindível de significado, é sobre isso que minha mente transladou nesses últimos meses.
     Quando comecei a escrever sobre o Bem, inclusive opondo-o várias vezes com o mal, residia ainda em mim vontade de discernir entre essas duas entidades há milênios cultivadas. O bem e o mal, traduzidos em sensações boas versus sensações ruins. Hórus contra Seth. Dia - que é quente, no qual é possível enxergar - em oposição à noite - fria, perigosa por nos cegar. Chego cada vez mais perto de abandonar tal discriminação. O pensamento humano é, geralmente, pontual e agudo, pois, sendo assim, em muitas ocasiões não apercebe-se da complexidade daquilo que vê como é bom ou ruim, já que - repetindo - essas noções são tão primitivas e têm seu valor baseado em algo momentâneo e restrito, o que é falho. Explicarei.
     Por serem tão antigas, o homem sempre teve algumas noções do que é Bem. Bem, seria (por exemplo, seu símio egoísta fomentando contra-argumentos no texto do seu conterrâneo) ganhar comida, ser alimentado, logo, alguém que lhe desse comida estaria fazendo o Bem. Cortar-se dói, é algo que não atrai, mas repulsa o ser. Se alguém machuca o outro, está fazendo o Mal, algo nesse sentido. O problema de todas essas situações, é - como já disse - o fato de serem instantâneas e pontuais. É esse pensamento rudimentar que gera conflito em outras situações, como por exemplo, uma vacina! A vacina analisada por esse lógica primitiva, seria algo ruim, portanto, má. Mas é justamente por não preocupar-se com as consequências e com implicações, que esse pensamento nos prega peças.
     "Viver é sofrer", ah doce Schopenhauer. O sofrimento é tão relativizável que torna-se uma inutilidade a tentativa de correlacioná-lo com o Mal. Tudo, qualquer atitude, pode ser dissecada a ponto de não aparentar tendenciosidade nos que diz respeito à suas implicações "boas" ou "ruins". É uma questão do que parece mais certo para aquelas pessoas naquele contexto histórico. Nós inventamos isso.


Motim evolutivo

     Sempre temos momentos em que estamos sozinhos em comparação com o grupo que nos rodeia. Se está perto de duas pessoas, e de alguma forma elas interagem intensamente, nada mais te acomete senão o sentimento de solidão, de abandono. Nada tão trágico ou digno de relevância, afinal, é somente naquele momento que a conspiração é contra ti, na maioria dos outros, somos um agente ferrenho do isolamento alheio. Evolutivamente, somos nada, a não ser uma máquina de sobrevivência, que deve - sozinha - passar seus genes adiante.
     Mas existe algo que me conforta e dá consolo. É saber que por mais que se juntem e eu passe por esse momento duro de própria extração de uma interação, todos estão isolados. As pessoas estão sozinhas. Esse si por si, quando se pensa apenas em você, e eis nosso grande erro, é terrível. Você não tem ninguém, porque, enquanto viver, a tua única garantia é a sua companhia.
     É desolador pensarmos que nenhuma das pessoas que amamos é uma certeza, é uma presença sólida em nossa jornada. Esse pensamento pode nos acometer quando alguém querido se vai, quando nos encontramos sem nenhuma ajuda, ou uma tremenda solidão surge sem nem mais nem porquê.
     No ano passado, encontrei situação difícil de se resolver e procurei refúgio onde quer que pude encontrar. Procurei por variados laços que tinha, e dentro de mim mesmo, na maioria das vezes. Não preciso nem dizer o quanto me senti sozinho ao encarar tamanho impasse, tamanha (confesse logo, Arthur) paixão. E o que essa palavra lembra você, caro leitor, senão um pensamento fixo, que lhe assalta inúmeras vezes durante o dia, e te mantém refém por quanto tempo quiser?
    Sim, algo como uma lembrete constante é um bom começo de descrição para uma paixão. E como algo tão difícil de se fugir, encará-la sozinho parece uma tarefa aterrorizante, é. Foi então, que na procura por qualquer ajuda, encontrei uma pessoa com quem pudesse dividir tal ansiedade, conflito e cascata de sentimentos pelos quais eu passava. Não espalhem por aí, mas ainda passo.
     Bastou um problema em comum para que uma amizade se fortalecesse  a um nível muito importante para os dois praticantes da mesma. Foi lindo ver como uma necessidade em comum uniu-me à outra pessoa de forma tão intensa, sendo que praticamente todo o resto fugia aos nossos gostos, estilos verdadeiramente dissonantes.
     Invoco essa passagem da minha vida aqui para justificar o imenso poder de encontrar si mesmo no outro, é essa a solução para firmarmos uma ponte pelo mar egoísta no qual nos ilhamos. Eu não sabia o que fazer, mas criei um dos meus laços mais fortes porque precisava de alguém igual a mim!
     QUAL SER HUMANO NESSE PLANETA NÃO É IGUAL A VOCÊ? Ele está sozinho, sozinho, e por isso que nossa maneira de pensar novamente nos engana: quer melhor razão para se juntar a alguém, do que o fato de ambos estarem... sozinhos?
     Sim, somos egoístas, creio que todo o altruísmo que exista por aí é um egoísmo disfarçado, maquiado. Mas não existe melhor maneira de resolver isso, senão reconhecer. Entrego-vos a chave do meu texto. Então, agora, seja uma pessoa, vivida ou não, rica ou não, da sua cor ou não, de qualquer modo, ela terá sempre muito em comum com você, e você pode comungar dessa semelhança, e assim, dar sentido à aproximadamente quatro bilhões de anos de evolução.
     E quanto já não escrevi sobre laços por aqui? Eles sempre me pareceram tão curiosos... Principalmente os familiares! ou aqueles mais íntimos, as amizades mais fortes. São todos, sob uma ótica impassível e racional: iguais. Não diferem em nada, e no meu tatear procurando por respostas nesse corredor escuro cogitei a primeira possibilidade de resposta ao imaginarmos cada ser humano como nossos irmãos de sangue, como parte da nossa família. Brotherhood.
     Já imaginou aquele mendigo como teu irmão, teu filho? Permitiria que ele fosse cuspido? Mais esbofeteante ainda é perguntar se aquele que cuspiu nele o permitiria, caso com ele dividisse grande laço? É por isso que fiquei terrivelmente abatido, esses últimos dias, as pessoas defendem com unhas e dentes - que soe o mais animalesco possível - aqueles com quem dividem um laço, mas outros, com quem nada têm, mas ironicamente sem nenhum motivo para que viesse a ter. O que quero dizer aqui é que qualquer pessoa, poderia ter qualquer laço que você tem hoje com você. Respeitando-se o que diz respeito a relações amorosas. Então, qual a diferença entre sua mãe, e qualquer outra mulher que poderia ser sua mãe? Qual? Elas são mulheres, humanas, são iguais. Mas muitas delas estão sofrendo agora, e você as defenderia, mas não está. Então, ao pensar nos outros como próximos, poderíamos mudar, mas essa não era a solução.
     A minha resposta ao egoísmo, é encontrar-se no outros. Se eu montava um quebra-cabeças, agora o finalizei, posso agora, me enxergar dentro de cada um, e isso transcende qualquer laço sanguíneo, qualquer interesse que me venha a memória agora. Impere sobre sua vontade, burle esse egoísmo que foi selecionado dentre os indivíduos por tanto tempo, então daí, a partir daí, eu poderei cogitar a possibilidade de não chamá-los de apenas mais um animal.






     O fato de que todo mundo é sozinho, me consola.