sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ensaio de Ser bom

 Antes de tudo, vou prepará-los com uma história que me inspirou a escrever tudo isso, é a história de Ernani, se você já conhece, leia novamente, pois eu fiz o mesmo hoje, e isso provocou reações diferentes daquelas que tive a primeira vez que vi a história. Leia, e depois veja os verdadeiros milagres a sua volta: Uma mãe que consegue trabalhar o dia todo, e ainda comprar balas para o seu filho. Um adolescente que diz não as drogas. Muitas vidas, que se fosse necessário, seriam, voluntariamente ceifadas, para salvar a tua.

O texto não tem autor conhecido:


     Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de engenharia. 
     Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro... ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças. 
     Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo, sempre quieto, inofensivo, à parte. 
     Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala; ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante. 
     Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo, ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu e o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo. 
     Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal, antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós. 
     No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes, Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. 
     Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós, mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte. 
     - Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras ! - disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo.
     Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço; cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia: 
     - Obrigado ! 
     Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último, era para o Ernani. 
     Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. 
     Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer. 
     Ernani não era o tipo de muitas palavras, ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto; em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo, por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.
     Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto; foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. 
     Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção. 
     - Eu sabia que você não ia se esquecer de mim - disse com a voz embargada. 
    - Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração - ele engoliu em seco novamente e continuou falando, dessa vez para todos nós. 
    - Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção... sabem, eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama e estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. 
     - Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela e a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. 
     - As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa... vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita. 
     - Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim, provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos... 
Ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos. 
    - Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos... e ele começou a abrir o pacote... 
     Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro, mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani, mas era tarde demais. 
     Ernani já tinha aberto o pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe. 
     Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu, todos nós ficamos olhando para baixo e a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente: 
     - Obrigado ! 
Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani. 
Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu.

Agora eu assumo daqui.
****

    Inspirado em uma passagem da bíblia, no texto acima e em questões que me tiraram da razão ultimamente, vou fazer um panorama confuso. Um texto que serve para mim e para todos. (Mas especificamente para um grupo de pessoas que vê a vida de um jeito diferente)
     Os princípios de uma religião, onde se tira a parte da recompensa divina e os deixa soltos. Essas atitudes fazem sentido dentro de uma doutrina, onde se acredita que haverá recompensa. Mas e quando não há retorno?


Bem-aventurados os misericordiosos.


Me dê sua pena? Quando devo ter misericórdia? E quantos já não foram enganados, e quantos já não foram humilhados e agredidos, mas estes não fizeram nada contra vós, não fizeram nada. E vós não entendestes aquela reação. Pois vós pelo menos até aquele instante, desconhecestes tal ato. Como quereis entender algo que não praticais, devidamente por não dominares tal conhecimento?
     Os que dançavam eram considerados loucos por aqueles que não ouviam a música. É desta atitude que estou falando! Essa "misericórdia" pode ser ensinada, então ensinemos!



Felizes as pessoas de coração puro.


     Como é difícil, conseguir entender a diferença de se ter um coração puro, e de não ter lábia. Eu me pergunto, e pergunto a vós, não parece que onde nós vivemos, nas relações pessoais, comerciais e tantas, é impossível ter "coração" puro? Sejais puros, mas não sejais ingênuos. 
     Clamo ardentemente a sua compreensão, de que é tão bonito a complexidade das interações. Não devemos perder a "política" humana de interagir, recriar e criar informações, se comunicar. Só preservemos a nossa essência.


Felizes as pessoas que trabalham pela paz


     Se as pessoas que trabalham para a paz conseguirem um pouco dela, tenho certeza de que já valerá a pena. Todos esses SENTIMENTOS dos quais não sei muito, e ainda falo deles, todos saem um pouco do racional. Saem um pouco do real. Por que o humano se sente bem em ajudar o outro sem ganhar nada em troca? Por quê? Se tu me respondes com qualquer coisa, te desafio. Tens certeza? Proves. Estás vendo? Aí está minha dúvida, não é provável...


 Alegrai-vos e exultai pois não sabemos onde vamos parar, e a contradição nos enforca. Alegrai-vos e exultai, pois te falta sentido em suas ações, e você se considera um homem da razão. Racionalmente então, por quê? EU pergunto a mim e a ti, por quê? 


Terra de bons homens

     Se vê muita caridade por aí, não podemos saber quanto de maldade e quanto de bondade existe, qual seria a  proporção. Estou nesse momento, passando frio, por que me despi da roupa da razão, e pareço delirar.
     Me peguei fazendo o bem um tempo atrás, sempre fui assim, nunca precisei de reconhecimento. Mas agora paro, paro por que tomei uma atitude drástica há pouco tempo, e o sentido de fazer atos bons, se vê perdido. Escute em silêncio, você não me deixou terminar de falar. Aqui é assim, eu falo tudo, você escuta.
     Diferentemente de quando tomei minha atitude, agora parece que mesmo faltando razão em fazer o bem, não consigo abandonar isso. Está em mim.
     Se podem me ver agora, como estou nu, sem meu manto de razão, podem enxergar a grande dúvida que está gravada em minha pele. Fui um homem que conseguiu aceitar talvez a verdade mais cruel de todas, de bom  grado. Mas só pude fazê-lo, pois não sofri tanto aqui. Nem chegou perto do que tantos sofrem. Mas acreditem, se eu tivesse sofrido, não poderia aceitar a verdade, e me perderia. 
     Nunca me perguntei algo tão crítico! Criticamente instável e perigoso. Ser bom, por quê? Chego a um ponto onde vejo que poucos poderão lidar com meus questionamentos, pouquíssimos. Fico me perguntando, quantos serão que vão conseguir no mínimo lidar com isso? Um? Dois?
     Pretendo responder, mas, pela última vez, não existe última resposta. Essa é uma prova que podemos entregar, e depois corrigi-la, mas sem receber uma nota. Quando o tempo da prova vai acabar? Isso eu não sei, chutaria a nossa morte, não? 
     E mesmo assim, é tão bela. Como vale a pena, estar vivo, aqui, agora. É tão perfeita, se me dispo da manta da razão, a coloco dobrada sobre a cabeça, nunca a deixaria tocar o chão. As possibilidades sensitivas são maravilhosas, a capacidade de pensar, cacete, esplêndida.
    Não gosto de questionar perguntas que são de uma metafísica clichê. Mas sim de uma pitoresca, para mim, é óbvio! E quais seriam essas? Não é preciso invocá-las nesse momento, digamos por enquanto: Seriamos nós, o Universo tendo consciência de si?
     Se assim o for, propomos que existam outras consciências, por aí. Mas ainda somos isso que a linguagem chama de humanos, somos usantes de qualquer tipo de comunicação e expressão desenvolvidas por outras pessoas. Ah! Sim! Era aqui que eu queria chegar... Outras pessoas! Amar! Amar!
     Me permitam, mais uma vez: Por quê? Criamos algo tão forte, tão forte... E como dói perder alguém.
     Quero, em razão de tudo que você leu, se você chegou até aqui, dizer o quanto misterioso você é! E se um dia, se um dia meu amigo, ou se um dia minha amiga, eu entender uma parte infinitamente pequena do que você é, eu vou poder descansar em paz. Obrigado, e mais amoroso do que qualquer apaixonado, eu digo para você: Eu te amo.


E o fim da história de Ernani:



Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças. 
Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito; Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico; Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio, elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados. 
O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em engenharia, sendo que, hoje, é o diretor geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos. 
Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras, entretanto, são de um tipo muito diferente; ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos. 
Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos... nunca lhe demos a devida atenção, não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela ignoramos suas ansiedades ou seus problemas.
     

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Nossa! Que texto lindo! Eu nunca tinha lido esse texto do Ernani, me arrepiei. Mas é verdade, às vezes convivemos com uma pessoa e não sabemos quem ela realmente é, as dificuldades que passa...
    Muitas pessoas gostam de praticar boas ações, umas esperando recompensa que suas religiões dizem existir, mas eu acho que a recompensa maior em ajudar uma pessoa é você saber que pode fazer alguma coisa para tentar melhorar a vida daquela pessoa de alguma forma, seja qualquer forma de ajuda vai mudar a vida de uma pessoa e vai fazer você se sentir bem.
    Arthur, adorei o texto! =)

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  3. uhasuehuahuHUSAHEU olha como voce é má, eu lendo: "Nossa! Que texto lindo" penso: Que bom que alguém gostou né? Daí continuo: "Eu nunca tinha lido esse texto DO ERNANI" logo penso: AH.. Não era do meu texto que ela estava falando...
    Enfim, realmente é uma história muito bonita, voce pegou bem o meu questionamento. Continuemos fazendo o bem ^^

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkk Eu falava no geral, que texto lindo, o artigo que vc criou no blog e depois comentei que nunca havia lido o texto sobre o Ernani...rsrsrsrs

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