terça-feira, 5 de junho de 2012

Um pequeno detalhe



          Era o segundo domingo de maio, eu estava folheando um jornal, simplesmente folheando. Meus olhos corriam de notícia a notícia, deslizando para achar algo que parecia interessante. Foi então que encontrei.  Comecei a ler, umas duas ou três linhas depois do começo do pequeno texto. “... o seu perfil era violento, passava noites fora de casa, tinha vários vícios, e quando aparecia, era só sofrimento...”, continuei a ler, minha curiosidade e espanto aumentando a cada palavra.
           Foi então que depois de ler uma frase encostei o jornal na mesa. A frase era: “A mulher tentou ajuda em diversos estabelecimentos,  e depois de apanhar brutalmente do rapaz ainda o defendeu diante dos vizinhos que queriam linchá-lo.” Me indaguei:
           — Que ser, em sã consciência, vive em uma situação dessas?  Essa mulher deve ser doente! Mas se foi escolher um homem assim, é provável que seja louca mesmo.
         Retomei minha leitura, apesar de não estar nem um pouco contente com o que estava lendo.  Pensei no fato de que uma pessoa apaixonada faz qualquer coisa, mas aquela situação ia além.  Crente de toda a história seria apenas a tentativa de uma mulher salvar seu marido de uma vida condenada, o que terminaria em um uxoricídio ou algo comumente trágico, me surpreendi ao ler o final do texto.
          Depois de tanto sofrimento, o moço finalmente adoeceu, e internado, precisava de um transplante de fígado.  Sua doadora perdeu a vida na cirurgia, mas o fígado pode ser transplantado, o que salvou o rapaz, que a partir daquele momento mudou completamente de vida. Depois de um desfecho desses, não pude acreditar em uma história tão triste, e resolvi então ler o texto de novo, dessa vez desde o começo.
          Ao ler a primeira linha pude entender completamente. A mulher, não era sua esposa, nem sua mulher, era sua mãe. E não há pessoa que faça o que uma mãe faz, aquela mãe salvou seu filho, e isso compensou qualquer sofrimento e dor que ela já tenha passado, são assim, todas elas. Uma lágrima desceu pelo meu rosto neste momento, pela história, e também porque quando a entendi, pensei em pegar o telefone e telefonar para a minha mãe, somente então me lembrei de que isso já não era mais possível.
Arthur Gobbi de Lima

Crônica que eu fiz no dia das mães. Espero que gostem, me rendeu um relógio e dois livros!

5 comentários:

  1. Estranho eu me espantar com tamanha habilidade. Eu já não sabia?
    Parabéns e obrigada por não me decepcionar! Nunca!

    ResponderExcluir
  2. Eu segurei para não chorar.
    Muito lindo o texto e só diz verdades.
    Gostei, tocou a alma.

    ResponderExcluir
  3. Obrigado Picocós, talvez voce já sabia!
    Pretendo surpreender cada vez mais! =)

    ResponderExcluir
  4. Que bom Selene, para um escritor, ler isso mostra que o texto valeu a pena! volte sempre, ando passando no seu blog para dar umas lidas também.. ausheuahse. até

    ResponderExcluir
  5. "Assim são todas elas" sim hahah pode confiar!
    Me emocionei lendo, sério.

    ResponderExcluir

Olá. Fique a vontade para comentar, com certeza seu comentário vai ser lido e respondido. " A vida não refletida, não vale a pena ser vivida".