sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Farewell Song

     Pra lá de sugestivo, não?


***


     Hei de promover um trauma neste blog. A intermitência que caracterizou a assiduidade com que aqui escrevi chega ao seu derradeiro intervalo. São tempos de abandonar um futuro considerado arcaico pela minha nova conjuntura, e faço-o ao findar o meu cântico neste espaço. Cesso a escrita compromissada, aquela incumbência aflitiva de gravar meus pensamentos. Nunca a desvalorizarei, ao contrário, reconheci nela grande parte da minha essência na escrita, assunto que discuti pormenorizadamente em um novo ambiente.
     O meu Senso Incomun é uma das relíquias de minha existência. É racionalmente pecaminoso em vários pontos, confuso noutros e reconhecidamente irreconhecido; nada disso importa-me. Nunca me afastei de meu objetivo mais sublime, que foi deixar nuances das minhas experiências mais marcantes. Encerro aqui uma ferramenta mnemônica que transcende a simples recordação. 
     Minha memória é, no mínimo, esquisita, mas sei que deixei aqui gravado os momentos dos quais não posso esquecer-me, pois creio que muitos outros, hão de esvanecer.


Não me esquecer de mim

     Nunca pude confabular profundamente com um amigo a ponto de identificar uma verdadeira negligência da minha memória. Ainda assim sempre cismei com algo semelhante, já que meus amigos se lembram de situações tão específicas e pontuais como os professores do ginásio, os colegas de classe e até mesmo algumas experiências compartilhadas comigo das quais não guardo menção nas prateleiras do meu cérebro.
     Sei que devo levar em conta que as pessoas têm suas memórias advindas das diferentes impressões que sofreram, essas sempre sendo muito subjetivas e individuais, mas se eu depender apenas dessa premissa acabo por concluir que muito da minha vida passou simplesmente desprezado, como se eu estivesse sempre ocupado, entretido com algo que me desviasse ou pelo menos dificultasse minha atenção às cenas rotineiras.
     Hoje paro e fico abismado com as proporções que esse blog tomou em minha vida! Como pôde seguir tanto adiante? Persistir, endurecer frente aos desânimos e ser resiliente o suficiente para suportar o ocasional enfado de um adolescente que poderia simplesmente desistir de usar seu tempo para escrever textos quase nunca comentados? E fico extremamente aliviado em vislumbrar essa pequena história que contei ao longo de dois anos. Meu ensino médio criptografado em alguns textos e reflexões pueris.
     Nunca deixarei de surpreender-me com algo que escrevi. Não por deleite estético, mas sim pela franqueza e ardor com que escrevi cada texto desse blog, a vontade de expressar, de lançar ao julgo alheio tantas perguntas, de mostrar revolta, demonstrar conhecimento, desmontar preconceitos. Essa é uma das grandes experiências que aponto em minha adolescência. Enquanto há aqueles que possuem aventuras muito mais vendíveis num cinema de shopping, extasio-me por dentro, deliciando - me silenciosamente por reconhecer que não exitei em construir algo de valor. Eu já fiz um pouquinho do infinito que ainda quero fazer, mas, com certeza, não ficará perdido nas catacumbas da memória.


Conversa entre amigos

     Saudável. É como descreveria a busca por reconciliação, a qual venho febrilmente aplicando em cada desatino, os laços dos quais tanto falei passam por um revigoramento que nunca existe por si só, nunca é natural. Deve ser ativamente exercido; é principiado por uma das partes mas somente gera frutos quando promovido em conjunto. Os problemas que enfrentei com as pessoas que muito estimo, foram dissolvidos com uma conversa entre amigos, a melhor forma de confraternização de um laço.
     E quando paro para pensar no quão bom foi parar de sofrer em silêncio, interrompendo a remoção de sofrimentos, martelados com a precisão de que nossa alma consegue investi-los para enfim expor, MOSTRAR! REVELAR a angústia ao sol! onde ela sôfrega ainda resistiu por certo tempo, mas enfim esmoreceu devido a ausência de um refúgio. Esse refúgio é alma cansada de cada um, parasitada por males que não resistiriam à confraternização de duas pessoas.
     É preciso ter essa audácia, de expor o problema. Por mais cataclísmico que possa parecer, ele só o é guarnecido em nossa mente frutífera, imaginativa e egoísta. Damos a esses assuntos habitat para que possam crescer, tomar proporções grotescas as quais são ridículas quando observadas por dois seres humanos. É claro, essa audácia só pode ser cogitada quando a soberania interna é conseguida. Ser soberano sobre seu ser, é nada menos do que não ter medo de viver aquilo que você deseja viver.
     Caso essa soberania não seja alcançada, o compartilhamento de uma angústia torna-se fútil e vazia. Um exemplo interessante e impossível de não ser incluído nesse texto é a realidade de uma pessoa com schizophrenia. A ilusão deve ser combatida, mas somente à luz daqueles que não estão submersos. Somente assim é possível reconhecer a falsidade de uma suposta realidade e, no nosso caso, promover o fortalecimento de um laço.
     Esse blog sempre foi a preliminar de uma conversa entre amigos, tamanho é seu valor.


Por fim

     Há tempos me perguntava qual seria o sentido da amizade se mesmo meu amigo mais próximo não entenderia, nem se identificaria com alguma situação pela qual eu passasse. Essa pergunta por muito pairou sobre minha cabeça, e isso é uma ameça perigosíssima para o meu ser, pois uma pergunta não respondida tende a perdurar-se até tornar-se insuportável. Salvo algumas que não passam de uma importunação mental. Agora sei que é justamente por não entenderem, e por não se identificarem com meu problema que eles são tão preciosos, pois somente alguém alheio a uma dor, porém amável para com aquele que sofre é que pode resgatar esse último da sua própria desgraça.
    Só pensei nisso ao escrever minha despedida, o que revela que mesmo quando menos espero, ainda posso obter sabedoria desse lugar. Por fim, há muito não me dirijo a você dessa forma; caro leitor. Porque sei que muitos leram, e eu sempre também escrevi pensando em vocês. Não paro de escrever, e  é possível encontrar o lugar onde agora escrevo (muito facilmente isso seria feito). Num primeiro momento, porém, não sinto vontade de divulgar esse outro reduto de minhas palavras. Inté e boa sorte.



Arthur,




médico o caralho.....   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá. Fique a vontade para comentar, com certeza seu comentário vai ser lido e respondido. " A vida não refletida, não vale a pena ser vivida".